Ferrovia atraiu operários e fomentou o desenvolvimento de Divinópolis

02/06/2016 - G1 Minas Gerais

O desenvolvimento econômico de Divinópolis, cidade do Centro-Oeste de Minas que completou 104 anos nesta quarta-feira (1º), é intimamente ligado ao serviço ferroviário, que se instalou na cidade no final do século 19, quando o lugar ainda era um arraial chamado Divino Espírito Santo - a elevação a município ocorreu em 1912. A oficina para consertos de trilhos e trens se deu em 1916. A expansão do serviço ferroviário atraiu mão de obra externa e impulsionou outros segmentos econômicos, como o agronegócio e a saúde.

A Valor da Logística Integrada (VLI), atual operadora do sistema férreo local, gera mil empregos diretos na operação ferroviária e na oficina, considerada a maior da América Latina. A empresa executa um projeto de expansão com investimentos de R$ 9 bilhões, previsto para ser incluído até 2017.

De acordo com dados da Associação Comercial e Industrial de Divinópolis (Acid), até a década de 1970 a cidade ainda era predominantemente rural. O que a fez crescer foi não apenas o fato de ser atendida por ferrovia desde meados do fim do século 19, mas principalmente por ser a sede uma empresa do segmento desde 1916 e concentrar centro de convergência, operações e mecânica.

Autor do livro "Divinópolis, uma ferrovia e cem anos de empreendedorismo", José Elísio Batista explica que a ferrovia provocou grande fluxo de mercadorias ao mesmo tempo em que passou a ser uma grande consumidora de produtos e serviços da região. Com a acumulação de capitais no comércio e na agropecuária, alavancou o surgimento e o crescimento da indústria no período entre 1920 e 1970. "Pela facilidade de transportar produtos, receber insumos e pelo consumo de lenha para as locomotivas", descreveu.

Associado à disponibilidade de tecnologias e da mão de obra trazida pela ferrovia, surgiu o setor industrial, por meio dos segmentos de mecânica, metalurgia, têxtil e laticínios a partir da década de 1970. "O início da ferrovia, passando pelo comércio, pelos serviços e pela indústria, marcou a atuação dos grandes ícones da nossa economia local, inclusive pela vinda de imigrantes italianos".

A ferrovia trouxe cultura e atraiu uma população já urbanizada, composta por engenheiros, artífices, mestres e prestadores de serviços, criando um núcleo cosmopolita e avançado para os padrões rurais do Brasil àquela época. "Atraiu empresários de fora, inclusive de descendência europeia, mas, principalmente, trouxe dezenas dos melhores empreendedores da região".

Hoje

A atual composição societária da VLI, criada em 2010 para reunir todos os ativos de carga geral da Vale, assumiu compromissos com o governo federal quanto a metas de transportes de cargas gerais. Isso poderá, a longo prazo, colocar Divinópolis no centro da logística brasileira, permitindo a ligação ferroviária com os portos de Itaguaí (RJ), criando o maior terminal de integração na Região Metropolitana e no Centro-Oeste. Atualmente as cargas que passam por Divinópolis têm como destino o Porto de Tubarão, em Vitória (ES).

De acordo com o diretor de operações ferroviárias Rodrigo Ruggiero, a empresa se estrutura em cinco grandes corredores: Centro-Norte, Centro-Sudeste, Centro-Leste, Minas-Rio e Minas-Bahia. O objetivo é garantir capilaridade e interiorização, alcançando regiões com alto potencial de expansão em commodities, produção agrícola e mineral, produtos industrializados e siderúrgicos. Só no ano de 2014 faturou R$ 3,7 bilhões e movimentou 48,8 milhões de toneladas de carga em ferrovias e 27,4 milhões de toneladas em portos.

"Não só a oficina, mas toda a cidade de Divinópolis tem grande importância na história da Ferrovia Centro-Atlântica, que hoje pertence à VLI. Vemos que a ferrovia e o município se desenvolveram juntamente ao longo dos anos, em uma relação de parceria não só baseada nos negócios, mas também no laço próximo que mantemos com a comunidade. A oficina de Divinópolis é o principal polo de manutenção da empresa, com capacidade e expertise técnica para atender qualquer ativo que circula pelos 7,2 mil quilômetros de linhas", disse.

A oficina faz testes com novos equipamentos recebidos pela empresa e se tornou referência na qualificação de profissionais com o Centro de Especialização e Desenvolvimento. "Os trabalhos na cidade têm uma importância considerável no setor quando se fala de avanços tecnológicos", pontuou.

Por meio da consolidação dessa integração entre modais, será possível aumentar a produtividade em corredores logísticos que transportam as riquezas do país.

Futuro

A VLI executa um plano de investimentos que começou em 2012 e tem previsão de conclusão para 2017, no valor de R$ 9 bilhões. O objetivo é tornar as operações da empresa ainda mais eficientes.

O capital vem sendo aplicado na construção de terminais intermodais de transbordo de carga, ampliação da atuação portuária da companhia, aquisição de locomotivas e vagões e na modernização das linhas férreas.

"Por meio da consolidação dessa integração entre modais, será possível aumentar a produtividade em corredores logísticos que transportam as riquezas do país nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste", acrescentou Rodrigo Ruggiero.

Sirene como patrimônio local

Durante muitos anos a FCA usou uma sirene para orientar os funcionários sobre os turnos de trabalho. Ela era tocada às 6h30, 6h45, 6h55, 7h, 10h55, 11h, 12h15, 12h30, 16h55 e 17h. Com o passar dos anos e os avanços tecnológicos, a empresa decidiu que o aparelho não era mais necessário e decidiu parar de usá-lo em 2000. Acostumados a se guiarem pelo som da sirene, os moradores de locais próximos à oficina se mobilizaram e pediram pela volta do aparelho. Foram atendidos.