Cooperação sino-brasileira em um novo patamar

18/05/2015 - Valor Econômico

LI KEQIANG

O Brasil é um país amigo bastante conhecido e apreciado pelo povo chinês. Na China, as majestosas paisagens do rio Amazonas e das Cataratas do Iguaçu são impressas nos livros didáticos das escolas secundárias; muitas pessoas estão familiarizadas com os diálogos da telenovela brasileira Escrava Isaura; fãs esportistas encantam-se com o requintado futebol da América Latina enquanto amantes de arte e literatura elogiam extremamente o samba e os romances do Paulo Coelho.

Doze anos transcorreram desde minha última visita ao Brasil. Nesse período, o desenvolvimento sócio-econômico do Brasil avançou a um ritmo vertiginoso. Com a subida do PIB do 15º lugar para o 7º do mundo, mais de 40 milhões de pessoas ingressaram na classe média. Tais conquistas brasileiras chamaram a atenção de todo o mundo para a expectativa de um futuro ainda mais promissor.

Com a minha visita espero consolidar ainda mais a tradição da amizade sino-brasileira, promover a cooperação de benefício recíproco e ganho compartilhado, e estimular o intercâmbio e aprendizagem mútua entre a China e a América Latina.

No contexto da fraca recuperação econômica global de hoje, tanto a China como o Brasil percebem que, só com a promoção da reforma estrutural no próprio país e a intensificação da cooperação internacional no palco mundial será possível manter a tendência de crescimento saudável, superar a armadilha da renda média e concretizar o aperfeiçoamento e desenvolvimento da economia.

A China e o Brasil, com grande complementaridade econômica, enorme potencialidade de cooperação e ampla perspectiva do mercado, são, nesse sentido, parceiros naturais.

A China é o maior parceiro comercial do Brasil, enquanto o Brasil é o maior parceiro comercial da China na América Latina. Apesar da grande volatilidade dos preços internacionais de commodities, a demanda vultosa desses produtos pela China será mantida no longo prazo. Soja e açucar do Brasil já ocupam respectivamente 45% e 60% da importação chinesa dos dois produtos, mas ainda têm espaço para aumentar. Enquanto produtos de alto valor agregado como jatos regionais da família ERJ são muito bem acolhidos pelas empresas chinesas de aviação civil, a China quer exportar trens de metrô, embarcações e outros equipamentos avançados ao Brasil, fazendo com que o comércio bilateral seja destacado pela transação de produtos vantajosos e beneficie mais os dois povos.

A China e o Brasil dispõem de boa base industrial e têm acumulado valiosas experiências na busca do caminho de modernização. Contando com extraordinária vocação de recursos naturais, a construção de infraestrutura de grande escala do Brasil ainda precisa de grande quantidade de materiais de construção, máquinas e equipamentos. Como empresas chinesas têm ricas experiências na engenharia e gerência e avançadas tecnologias na fabricação de equipamentos, o investimento chinês no Brasil para instalação de fábricas e o uso de materiais locais para produção é algo classificado como combinação de vantagens.

A parte chinesa deseja participar dos grandes projetos brasileiros como a construção de malha ferroviária de cargas e redes de eletricidade e telecomunicação, promover, junto com a parte brasileira, cooperação de cadeia produtiva na construção naval, indústria petroquímica, exploração de petróleo e gás, entre outras. Quando as duas partes tiram pleno proveito das respectivas vantagens comparativas, abrirão um novo caminho de cooperação internacional de capacidade produtiva e fabricação de equipamentos.

Para promover a cooperação industrial e de investimento, é necessário aproveitar melhor o suporte do setor financeiro. As duas partes podem estudar a instalação recíproca de mais sucursais bancárias e outras instituições financeiras, utilizar bem o mecanismo de swap cambial, a fim de dar melhor apoio de financiamento à cooperação das empresas dos dois países.

Sendo países emergentes, a China e o Brasil devem intensificar comunicação e coordenação nas organizações como o Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics e o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura para salvaguardar juntos a estabilidade do mercado de capitais internacionais.

O intercâmbio humanístico contribui para incrementar a compreensão e conhecimento mútuo dos dois povos, e do ponto de vista de longo prazo, promover a aprendizagem e referência recíproca entre as civilizações da China e da América Latina. Hoje, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, as árvores de chá plantadas pelos agricultores chineses no século XVIII continuam verdes. Há pouco tempo, uma moça brasileira, cujo nome chinês é Shi Moli, destacou-se na "Ponte do Chinês", competição da língua chinesa para universitários de todo o mundo, e sagrou-se campeã. Acreditamos que com a sustentação de profunda afeição entre os povos, a amizade China-Brasil será passada de geração em geração, e renovada com o tempo.

A China e o Brasil, os maiores países em desenvolvimento respectivamente nos hemisférios leste e oeste, e ambos importantes economias emergentes, além de ter mais de 200 anos de relacionamento amistoso, possuem crescentes interesses comuns e brilhantes perspectivas de cooperação. Sem conflitos fundamentais, os dois países respeitam mutuamente na escolha autônoma do caminho de desenvolvimento, e apoiam-se um a outro nos temas de grande interesse relativo.

Com esforços conjuntos das duas partes para consolidar a confiança mútua política no âmbito da Parceria Estratégica Global, inovar e aprofundar constantemente a cooperação em todas as áreas, e emitir a voz única em governança global, mudança climática, segurança cibernética e estabilidade financeira internacional, não apenas podemos impulsionar o próprio desenvolvimento para um nível mais alto, como também desempenhar um papel positivo no aprofundamento da cooperação integral entre a China e a América Latina, na melhor salvaguarda dos direitos legítimos dos países em desenvolvimento, e na promoção da recuperação da economia mundial.

Li Keqiang -primeiro-ministro do Conselho de Estado da República Popular da China