Ferrovia barateia escoamento de biodiesel de MT

19/03/2015 - Valor Econômico

Segundo maior produtor de biodiesel do país, Mato Grosso agora tem estrutura para escoar sua oferta atual por ferrovia até a refinaria de Paulínia, em São Paulo. A Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, inaugurou ontem um terminal ferroviário de combustíveis no município de Rondonópolis que, em larga medida, terá justamente essa finalidade. O projeto gerou expectativa no Estado pela redução de custos que promete garantir na comparação com a utilização de rodovias.

O transporte do biodiesel puro (B-100) de Rondonópolis a Paulínia será realizado nos mesmos vagões que agora poderão levar gasolina e diesel da cidade paulista até o polo agrícola mato-grossense. Por caminhão, são cerca de 2 mil quilômetros. Nas contas da Raízen, essa otimização do transporte, com a ocupação dos vagões ferroviários na ida e na volta, possibilitará um ganho de eficiência de 27% na distribuição de combustíveis na região, segundo Leonardo Pontes, diretor-executivo de logística da empresa. E boa parte desse ganho virá da redução dos fretes.

A Raízen, cujo faturamento anual supera R$ 50 bilhões, começou a transportar biocombustíveis por trilhos em 2013, com o transporte de biodiesel de Esteio (RS) até Araucária (PR). Na base de distribuição ferroviária da empresa em Alto Taquari (MT), o uso do modal para o escoamento de biocombustíveis entrou em escala comercial em 2014, puxado pelo etanol produzido no sul de Goiás - tanto na usina própria da companhia, localizada em Jataí, como em outras unidades da região.

Com o terminal de Rondonópolis, todo o biodiesel de Mato Grosso que até agora chegava a Paulínia em caminhões deverá seguir em vagões. Com isso, a empresa espera ampliar significativamente o volume total de biocombustíveis que movimenta por ferrovias no ciclo 2015/16, que terá início em abril.

A área de distribuição de combustíveis da Raízen projeta que deverá movimentar no mercado interno 3,8 bilhões de litros de etanol e outros 700 milhões de litros de biodiesel nesta temporada 2014/15, que terminará no dia 31 deste mês. Do total de 4,5 bilhões de litros, 20% serão escoados por trilhos, disse Pontes. "Com Rondonópolis, esse percentual vai dobrar", previu.

A maior parte do biodiesel de Mato Grosso é produzido em um raio de cinco a dez quilômetros do novo terminal da Raízen em Rondonópolis, construído às margens da malha da América Latina Logística (ALL) - agora também controlada pela Cosan por meio da subsidiária Rumo Logística.

Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2014 o Brasil produziu 3,4 bilhões de litros de biodiesel e Mato Grosso representou 18% desse volume (611 milhões de litros). Aproximadamente 400 milhões de litros vieram de unidades de processamento localizadas em Rondonópolis, incluindo as das multinacionais americanas ADM (161 milhões de litros) e Bunge (115 milhões de litros) e a da asiática Noble (116 milhões).

É difícil saber como o ganho de eficiência calculado pela Raízen em 27% vai se distribuir ao longo da cadeia produtiva. Mas, conforme o diretor de logística da empresa, o novo terminal tende a mudar o patamar de competitividade de Mato Grosso em biodiesel em relação a seu maior "concorrente", o Rio Grande do Sul.

Do total de 700 milhões de litros que a Raízen movimentará em biodiesel no ciclo 2014/15 em todo o Brasil, em torno de 50% virão de Mato Grosso e 40% de fábricas gaúchas. "A projeção é que o biodiesel mato-grossense amplie sua participação em 10 pontos percentuais nos próximos cinco anos, pois é aqui que está a maior produção de soja do país e os maiores potenciais de crescimento na fabricação de biodiesel", afirmou Pontes.

Em 2015/16, segundo ele, a Raízen deverá movimentar 830 milhões de litros de biodiesel no Brasil, em virtude do aumento do percentual de biodiesel no diesel - de 5% para 7%, em vigor desde o último trimestre do ano passado - e também desse crescimento de "market share".

Desde sua implementação no país, há quase dez anos, o mercado de biodiesel é regulado pelos leilões da ANP, que define os volumes a serem adquiridos a cada bimestre e estabelece os limites para os preços de comercialização. Mas Leonardo Gadotti Filho, vice-presidente de Logística, Distribuição e Trading da Raízen, não tem dúvidas de que esse mercado vai mudar um dia no Brasil.

"E, quando isso acontecer, o diferencial será a logística", afirmou Gadotti. Atualmente, o biodiesel B-100 pode ser adquirido apenas por uma distribuidora de combustível, que o mistura, na proporção permitida, no diesel que é distribuído no país. "Quando o mercado se abrir, poderemos movimentar volumes bem maiores do produto, uma vez que atuaremos também como trading de biodiesel", disse o executivo.