Chineses vão entrar em leilão de ferrovias

17/07/2014 - O Estado de SP

BRASÍLIA - Os chineses vão participar dos leilões de concessão de ferrovias brasileiras por meio de uma cooperação da China Railway Construction Corporation (CRCC) com a construtora Camargo Corrêa. A empresa brasileira confirmou ontem ao 'Estado' ter assinado um termo de acordo "para estudos de viabilidade de investimentos no (PIL), programa de investimentos em logística, do Governo Federal."

A parceria deverá ser o principal saldo do encontro bilateral da presidente Dilma Rousseff com o presidente da China, Xi Jinping. Os países deverão assinar um protocolo de intenções de investimentos em infraestrutura. Foram oferecidas aos chineses seis linhas que o governo brasileiro considera estratégicas.

A primeira linha a ser leiloada é uma ligação entre Lucas do Rio Verde (MT) e Campinorte (GO), mas há diversas outras em fase de estudos. Entre elas, algumas que ligam o cerrado brasileiro a portos do Norte, como Sinop (MT) a Miritituba (PA) e Sapezal (MT) a Porto Velho (RO).

"Esse é o grande fato do nosso encontro", disse o presidente da seção brasileira do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), embaixador Sérgio Amaral, durante evento com empresários dos dois países promovido pela entidade. "Não conversamos mais sobre exportação de commodities ou investimento em infraestrutura, que marcaram o início das nossas relações, mas partimos para outro patamar, que é o de parceria."

Segundo o embaixador, a diferença agora é que as empresas dos dois países atuarão juntas. Haverá cooperação na construção da linha e no transporte da carga aqui. A associação continuará do outro lado do mundo, pois empresas brasileiras, como a BR Foods, têm centros de distribuição na China.

Por ligarem áreas produtoras de alimentos aos portos, algumas ferrovias caem como uma luva no interesse estratégico chinês de garantir sua segurança alimentar. Os empreendimentos também proporcionarão redução do custo do transporte. Com as linhas, será possível aos chineses comprar grãos e proteína animal diretamente dos produtores brasileiros, em vez de adquirir esses produtos de tradings, como ocorre hoje. O comércio direto, disse Amaral, foi mencionado pelos negociadores chineses de alto nível como um objetivo. "Eles vão concorrer com as tradings."

Ao Brasil interessam não só os investimentos diretos chineses, mas também os investimentos financeiros, informou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Pablo Fonseca. Ele explicou aos chineses as facilidades oferecidas pelo Brasil nas debêntures de infraestrutura e nos fundos de private equity. A principal é a isenção do Imposto de Renda para investidores estrangeiros.

Brics. Não é possível prever se o banco dos Brics, sacramentado esta semana, terá aplicação prática nas ferrovias. Se o consórcio sino-brasileiro participar e vencer o leilão, o mais provável é que a obra seja financiada por uma parceria entre o BNDES e o banco de desenvolvimento da China. Além disso, três grandes bancos chineses estão se instalando no Brasil, o que garantirá financiamento privado ao empreendimento.