Novas ferrovias atraem empresas do agronegócio

11/09/2013 - Brasil Econômico

Apesar das dúvidas com relação ao modelo proposto pelo governo, operadores logísticos já começam a se movimentar para o primeiro trecho ferroviário que será licitado, que liga Açailândia (MA) ao porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA). Segundo fontes do setor, empresas ligadas à logística da produção agrícola, como a multinacional Bunge e a brasileira NovaAgri, já vêm mantendo contatos com fornecedores para preparar terreno para a concorrência pelo uso da capacidade do trecho. A operadora Valor Logística Integrada (VLI), controlada pela Vale, é outra empresa citada entre as potenciais competidoras. 

"Já estamos recebendo consultas de empresas que começam a preparar o plano de negócios para participar da competição", diz um fornecedor de equipamentos para redes ferroviárias. Procuradas, as companhias preferiram não se manifestar. Mas está claro, entre especialistas, que empresas com negócios ligados à agroindústria têm maior interesse pela operação, que criará um novo corredor para o escoamento de grãos no país. As empresas que já começam a se manifestar, segundo fontes do setor, têm atividades ligadas ao transporte da produção agrícola, com a operação de terminais e, no caso da VLI, de concessões ferroviárias. 

"Há uma demanda reprimida muito grande naquela região (do primeiro trecho a ser concedido), tanto dos produtores de grãos quanto dos produtores de minério", avalia o professor Paulo Fleury, do Instituto de Logística e Supply Chain. A grande dúvida, diz Fleury, reside na desconfiança sobre o modelo de construção das novas concessões. Com o objetivo de desverticalizar o setor, o governo propõe que a estatal Valec compre toda a capacidade de transporte dos novos trechos e revenda aos operadores interessados. A licitação para construção do primeiro trecho está prevista para outubro. O investimento previsto, segundo o plano de outorga aprovado em julho, é de R$ 3,25 bilhões. 

Nessa etapa, o governo espera a participação de grandes construtoras. "A questão é se vai haver gente interessada, porque o modelo tem um risco regulatório grande", comenta o especialista do Ilos. "A desverticalização é interessante, porque aumenta a competição, mas a solução apresentada não é boa aos olhos dos investidores", concorda Letícia Queiroz, especialista em regulação do escritório Siqueira Castro Advogados. 

O mercado espera adiamento do leilão do primeiro trecho para que o governo consiga sanar dúvidas do Tribunal de Contas da União (TCU) e apresentar soluções que melhorem a atratividade do projeto. Letícia não vê impedimentos legais para que o modelo proposto pelo governo seja utilizado, mas acredita que haverá questionamentos dos órgãos de controle. "A discussão é natural porque se trata de um modelo novo" explica. Segundo fontes, a tendência é que o governo aproveite a MP de criação da Empresa Brasileira de Ferrovias para reforçar a sustentação legal do sistema proposto. 

O programa de concessões de ferrovias, que prevê investimentos de R$ 91 bilhões na construção e modernização de 10 mil quilômetros de linhas férreas, faz parte do Programa de Investimentos em Logística (PIL), grande aposta do governo para impulsionar a economia por meio do investimento nos próximos anos, revertendo a dependência do consumo interno no desempenho do PIB. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) já abriu consulta pública para discutir com o mercado as minutas de edital e contrato de concessão de dois outros trechos, que ligam Lucas do Rio Verde (MT) a Campinópolis (GO) e Estrela D'Oeste (SP) a Dourados (MS). 

O Programa de Investimento em Logística tem aportes totais estimados em R$ 133 bilhões. Além de ferrovias, vai conceder trechos rodoviários. Para atrair investidores, o governo anunciou um pacote de financiadores, que inclui a participação dos fundos de pensão de estatais, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Fonte: Brasil Econômico