Ferrovia em Cuiabá: o sonho não acabou

12/08/2013 - Mídia News

Projeto inicia sem concluir os 200 km que faltam para chegar a Cuiabá

Opinião: Rodrigo Rodrigues

A ferrovia idealizada pelo engenheiro Domingos Iglesias, e abraçada politicamente pelo senador Vicente Vuolo, começa finalmente a operar em Rondonópolis.

Vários acontecimentos marcaram esta saga de homens abnegados e sonhadores. Cada um, em dado momento, foi crucial para realização deste "sonho quase impossível".

Da ideia original de Iglesias, que prontamente o senador Vuolo transformou em sua bandeira política, já se passaram mais de três décadas. Foram anos e anos de lutas e embates políticos, que contaminaram as gerações seguintes.

Um dos maiores entraves para chegada da ferrovia em Mato Grosso era a ponte rodoferroviária em Aparecida do Taboado, divisa de Mato Grosso do Sul com São Paulo. Outro obstáculo foi o lobby dos políticos do estado de Goiás, que pressionava pela mudança do traçado, fazendo um giro no Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul, para cidade de Rio Verde, Goiás.

Se os políticos goianos tivessem tido êxito, o trem não estaria apitando em Rondonópolis. Poderia até chegar a Mato Grosso, mas não no tempo que chegou.

O ex-deputado Pedro Lima, tendo esta visão de que se o traçado fosse alterado para Rio Verde, teríamos que esperar mais dez anos, organizou um movimento juntamente com os políticos de Mato Grosso do Sul, na cidade de Costa Rica.

Participaram deste manifesto cinco deputados federais e dezoito deputados estaduais de Mato Grosso do Sul, além é claro do prefeito da cidade anfitriã. Do nosso estado estiveram presentes os prefeitos de Guiratinga, Joaquim Doido; de Alto Garças, Sossó; de Alto Araguaia, Edson Brandão; de Alto Taquari, Lairton Sperandio; de Rondonopolís, o hoje deputado estadual Jota Barreto; o ex-deputado Hermes de Abreu; e na condição de presidente do sindicato rural de Alto Araguaia, o deputado federal Homero Pereira; e é claro, o idealizador do encontro, Pedro Lima.

O movimento ganhou força e musculatura com a presença do vice-governador de Mato Grosso, Edison de Freitas (PMDB). Fundador do MDB, e ex-prefeito da cidade de Jales, São Paulo, Dr. Edison tinha um ótimo transito entre os políticos paulistas, e emprestou todo seu prestigio ao evento, mobilizando parte da bancada paulista, inclusive o ex-governador Mario Covas, de quem era amigo e companheiro do velho MDB de São Paulo.

Deste movimento saiu a "carta de Costa Rica", e a garantia da manutenção do traçado original.

O outro encontro que foi de suma importância para a consolidação da vinda da ferrovia para Mato Grosso, se deu em Alto Araguaia, com a presença do governador de São Paulo, Mario Covas (PSDB) e de Mato Grosso, Dante de Oliveira (PDT). Neste encontro Covas se comprometeu com a nossa causa, viabilizando a construção da ponte rodoferroviária em Aparecida.

Havia naquele momento um interesse muito grande por parte dos tucanos em cooptar Dante, o que mais tarde acabou acontecendo.

É importante lembrarmos, a cada apito do trem, da importância de homens como Domingos Iglesias, Vicente Vuolo, Edison de Freitas, Pedro Lima, Mario Covas e Dante de Oliveira.

Faço esse relato para tentar motivar os jovens e as novas lideranças políticas, a comprarem essa briga e não deixar que sonho da ferrovia em Cuiabá morra nos barrancos do rio vermelho.

Ao contrario de que alguns dizem, a ferrovia em Cuiabá é viável sim. Em todo mundo a estrada de ferro foi ponta de desenvolvimento, levando o progresso, aqui tentam inverter esta lógica.

Parte de nossas lideranças, principalmente do médio norte e norte do estado, lutam para trazer a ferrovia do centro oeste, a FICO, com 1.065 km de distancia, a um custo de mais 6 bilhões. Esta ferrovia
vem de Goiás, e passará distante de Cuiabá indo para o município de Lucas do Rio Verde. Mas ninguém, nenhuma liderança da região de Cuiabá se apresenta para defender esta cidade hospitaleira e acolhedora. "Neste momento, o vale do rio Cuiabá não tem representantes de peso. Estamos órfãos de lideranças. O sonho da ferrovia em Cuiabá esta escorrendo por entre nossos dedos, perdendo de goleada para a realidade capitalista que irá atender a meia dúzia de fazendeiros de soja"

É um tremendo contrassenso iniciar um projeto de mais de mil quilômetros, sem antes concluir os 200 da Ferronorte que faltam para chegar a Cuiabá. Mais que contrassenso: é um absurdo sem tamanho, é uma afronta aos cuiabanos.

Isto deixa claro que neste momento o vale do rio Cuiabá não tem representantes de peso. Estamos órfãos de lideranças. O sonho da ferrovia em Cuiabá esta escorrendo por entre nossos dedos, perdendo de goleada para a realidade capitalista que irá atender a meia dúzia de fazendeiros de soja. Até entendo o empenho do senador Blairo Maggi em prol da FICO, pois o mesmo tem negócios na cidade de Lucas, mas os parlamentares cuiabanos, ou que tem base eleitoral aqui, não podem ser omissos, e devem urgentemente encampar esta luta.

O vale do rio Cuiabá é composto pelos municípios de Chapada dos Guimarães; Rosário Oeste; Poconé; Nossa Senhora do Livramento; Barão de Melgaço; Santo Antonio do Leverger; Nobres; Acorizal; Jangada; Planalto da Serra; Nova Brasilândia; nossa capital e sua irmã gêmea Várzea Grande. Estas cidades representam quase 40% do eleitorado mato-grossense, ou seja, disparado o maior colégio eleitoral, com uma população de quase um milhão de pessoas, e um PIB de mais de dez bilhões.

A chegada da ferrovia no vale do rio Cuiabá irá atender também a região Oeste, a grande Cáceres, que por uma "maldade" de determinados agentes públicos, a serviço dos empresários do ramo de combustíveis, inviabilizaram a hidrovia do rio Paraguai. A dificuldade de logística e falta de políticas de incentivos, estagnaram a economia naquela região. Portanto os benefícios não serão só para Cuiabá e região, fomentará o desenvolvimento também na fronteira.

Os cuiabanos são um povo simples, do bem, receptivo e de boa índole, mas é chegada a hora de exigir o que é nosso por direito, convocar nossos irmãos da grande Cáceres, para caminharmos juntos nesta luta, que poderá ser nossa redenção econômica, e o fim da miséria, que cresce ano a ano.

Este é momento de deflagrarmos este movimento "pró vale do rio Cuiabá", dando forte indicativo que só iremos votar em quem tiver o compromisso com esta causa, afinal somando os eleitores das duas regiões, Cuiabá e Cáceres, somos mais de 60 %, ou seja, a maioria absoluta, e não podemos ficar à mercê da vontade de uma minoria, que visa apenas interesses pessoais. Como diz o ditado: estamos com a faca e o queijo na mão. E a hora é agora!

Rodrigo Rodrigues é jornalista e analista político.

Fonte: Midia News