Primeiro trem elétrico do Paraná será restaurado


14/05/2013 -Gazeta do Povo

Raul Carneiro Neto observa a "Metrovick”: trem rodou entre 1953 e 1961 fazendo o trajeto Curitiba-Estação Banhado, na Serra do Mar

Acervo de um passado marcado por invenções tecnológicas, a primeira locomotiva elétrica a rodar pelas ferrovias paranaenses – a Metropolitan Vickers Bo-Bo 3000V – completa neste ano seis décadas de chegada ao Brasil. Para marcar a data, a Associação Brasileira de Proteção Ferroviária (ABPF) está dando os primeiros passos para restaurar a raridade, hoje sob os cuidados da entidade em Curitiba. Uma vez reformada, a locomotiva será uma das atrações de outro plano da associação – a criação de um museu nas dependências da própria ABPF, que fica na capital.

Fabricada na Inglaterra ainda no início dos anos 1950, a "Metrovick” teve vida curta nos trilhos paranaenses. Registros mostram que a locomotiva rodou entre 1953 e 1961 no estado, relata o diretor administrativo da regional da ABPF no Paraná, Raul Carneiro Neto. O trajeto percorrido pela "inglesinha” começava em Curitiba e seguia, no sentido Paranaguá, até a estação "Banhado” – anterior à "Véu de Noiva” –, na Serra do Mar.

Reforma

O diretor administrativo da ABPF no Paraná explica que o projeto de restauração exigirá um trabalho de pesquisa minucioso, sobretudo, porque só existem dois modelos da "Metrovick” em terras brasileiras. Um deles é o de Curitiba e o outro está na cidade histórica de São João Del Rey, em Minas Gerais.

Será preciso atentar para os detalhes na recuperação interna da cabine, maquinário, faróis, sinos, para-brisa e pantógrafo, além de tirar a ferrugem deixada por intempéries das últimas décadas e aplicar novas camadas de tinta. "Provavelmente, a cor que vamos usar será a ‘pinhão’, um marrom avermelhado. Estamos pesquisando bastante sobre os detalhes, em documentos e com o pessoal mais antigo”, explica.

A equipe de restauradores também não descarta buscar peças e outras referências sobre a locomotiva fora do país. Segundo Neto, todos os materiais utilizados no projeto devem seguir normas de segurança previstas na legislação brasileira. "Nossa ideia é que a locomotiva possa funcionar novamente, que ela fique como saiu da fábrica. Mas, por não termos uma ferrovia eletrificada, ela ficará estática, não poderá rodar”, diz.

Recursos

Entidade vende miniaturas da "Metrovick” para financiar a reforma

Uma campanha foi iniciada pela regional paranaense da Associação Brasileira de Proteção Ferroviária (ABPF), em parceria com a empresa Microtransport, a fim de obter recursos para a restauração da "Metrovick”. Uma miniatura da locomotiva elétrica, apta a ser motorizada, foi criada com base no exemplar que está em Curitiba. Os recursos arrecadados na venda do produto deverão ser direcionados para a reforma.

As miniaturas devem ser entregues em setembro, mês previsto pela associação para a apresentação da locomotiva restaurada. A ABPF também busca o apoio de empresas através da doação de materiais para a reforma da "Metrovick”. Os interessados em colaborar podem obter mais informações por meio do site da entidade, o www.abpf.org.br, no link "Regionais”.

"Em países da Europa vemos locomotivas de 1850 funcionando, com uma estrutura muito boa. As pessoas têm orgulho disso. Nós também precisamos preservar o que é a história de um povo para saber de onde viemos e para onde queremos ir”, defende o diretor administrativo da ABPF no Paraná, Raul Carneiro Neto.

Interior da locomotiva elétrica: reforma vai deixá-la "pronta para uso”

Raridades

Visitas agendadas

Além da Metropolitan Vickers, a sede da Associação Brasileira de Proteção Ferroviária (ABPF) em Curitiba abriga outras relíquias, como uma locomotiva Maria-Fumaça do tipo Baldwin, fabricada nos Estados Unidos, e veículos adaptados que transportavam funcionários na rede ferroviária. Visitas podem ser agendadas para os sábados, a partir das 9 horas. A ABPF no Paraná fica na Rua Mariano Torres, 1.115 (ao lado da Rodoferroviária de Curitiba). Mais informações pelo e-mail contato@abpfpr.com.br

Uma rede elétrica independente a movia nesta época, permitindo o transporte de cargas e passageiros pela ferrovia eletrificada. "Mas esse sistema foi desativado ainda na década de 1960 e a locomotiva deixou de ser usada”, conta Neto.