Há 12 anos, o adeus aos passageiros de Bauru

16/03/2013 - Rede Bom Dia

Uma gare com algumas dezenas de bauruenses recepcionou o último comboio, em 2001. Retorno é incerto

Rodrigo Viúdes

É fim de tarde na estação ferroviária de Bauru. Da curva sob o viaduto da rua Azarias Leite, surge, ao longe, a esforçada locomotiva diesel-elétrica G-12 à frente de dois carros de passageiros ainda batizados de "Expresso Estrela D'Oeste" (1996) - que não teria trafegado mais do que 20 vezes.

A escolha não poderia ter sido melhor apropriada. Sem brilho e nunca mais de volta ao oeste: chegava ao fim, em Bauru, perto das 16h30 de 14 de março de 2001, o transporte de passageiros por ferrovias no estado de São Paulo.

A derradeira viagem, após 96 anos de serviços prestados ao surgimento e desenvolvimento de tantas cidades, foi recebida por dezenas de pessoas, como já não era de costume há tempos.

Apesar de histórica, a chegada do trem não despertou o interesse de parte da imprensa em Bauru – o BOM DIA só iniciaria suas atividades em 20 de novembro de 2005.

A partida /O último comboio partiu de Campinas, às 9h15, com 57 passageiros a bordo. Desses, nem todos resistiram à última oportunidade para atravessar os 291 quilômetros ferroviários até Bauru.

Por uma mera contingência de escalas, restou ao maquinista José Ângelo Maçoca a incumbência de conduzir as duas últimas viagens – a primeira, a de ida, até Campinas, na véspera.

"Não foi nenhuma surpresa para a gente que trabalhava na ferrovia. Já percebíamos que, com o tempo, o transporte de passageiros seria mesmo desativado", contou o maquinista.

Ele atendeu ao convite do BOM DIA e retornou à mesma gare na qual deixou os últimos passageiros. E não demorou muito para desabafar seu desapontamento pelo encerramento do serviço.

"Era diferente transportar passageiros. A gente passava pelas estações e as pessoas aguardavam o trem. Sentimos bastante depois que tudo ficou vazio", revelou.

Contratado em 1983 pela Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A [1971-1998]), Maçoca seguiria na profissão à frente apenas do transporte de cargas até 2007, quando se aposentou.

volta? /Doze anos após a última viagem, há quem esteja, ao menos, se esforçando para que o trem de passageiros possa, novamente, chegar e sair da velha gare de Bauru.

O BOM DIA divulgou na edição de 13 de janeiro deste ano o lançamento de uma campanha pró-retorno conduzida pelo Sindpaulista (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas).

A entidade propõe que os contratos de concessão, atualmente em vigor com apenas uma empresa, a ALL (América Latina Logística), sejam revisados de modo que o transporte de passageiros também seja exigido, como função social, além do de cargas.

"Juridicamente, nossa iniciativa é viável. Só falta vontade política e uma mobilização da sociedade para que, de fato, aconteça", afirmou, convicto, ao BOM DIA, o vice-presidente do Sindpaulista, Ariovaldo Bonini Baptista.

A ALL reafirmou, por meio de nota, que não tem interesse e, sequer, know-how para transportar passageiros. Diz preferir apenas as cargas.

Assim, até que a iniciativa pública ou privada não se interesse, o retorno dos trens de passageiros segue apenas estacionado na história.

Fonte: Rede Bom Dia