A ferrovia que não saiu do papel

07/01/2013 - Correio Braziliense

Falhas técnicas na elaboração e na execução do projeto, desvios de recursos públicos e abandono marcam a história da Ferrovia Norte-Sul

Uruaçu (GO), a 260 quilômetros de Brasília e a 290 quilômetros de Goiânia, é o palco da parte mais arrojada e também mais problemática da construção da Ferrovia Norte-Sul. Falhas de projeto e, sobretudo, desvios de recursos foram sentidos com maior intensidade nos trilhos que ligam Anápolis (GO) a Palmas (TO), impondo atrasos somados de pelo menos quatro anos em relação ao término previsto inicialmente para 2010.

Essa demora custa caro às prósperas atividades agrícolas e minerais dos municípios envolvidos e deixa ansiosos investidores nacionais e estrangeiros, de olho no potencial de acessar com segurança e rapidez o mercado externo, via Porto de Itaqui (MA), e também o mercado nacional. Grandes multinacionais da indústria de alimentos, como a Cargill e Bunge, e da mineração, como a Vale, já têm planos prontos para investir no local assim que a ferrovia estiver em atividade operacional, além de outros grupos. Ano passado, uma nova missão empresarial chinesa esteve no local, interessada no quadrilátero de minérios e agronegócios formado pelas cidades de Niquelândia, Barro Alto, Minaçu e Alto Horizonte.

Os trens que ainda não passam por Uruaçu aliviariam o pesado tráfego de caminhões nas rodovias do norte de Goiás, como a BR-080, que liga o estado ao Distrito Federal. A diferença de custos de frete, em torno de 40%, tende a aumentar em razão do recente endurecimento da lei e da fiscalização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) sobre o trabalho de caminhoneiros autônomos.

O estado geral das rodovias que atendem a cidade até não é dos piores, mas a imprudência de motoristas e a concentração de veículos de transporte em vias não duplicadas assusta visitante. Os sinais de desgaste e de deformação das pistas são evidentes. Pelo caminho, as paisagens às margens do asfalto mostram que as extensas plantações de soja começam a disputar espaço com as seringueiras, um negócio promissor em Barro Alto.

Oficina e motel
A pequena cidade de 40 mil habitantes já foi afetada positivamente por outra grande obra de infraestrutura do governo federal, a Hidrelétrica Serra da Mesa, que transformou a cidade em polo turístico. Desde 1998, o lago formado pela barragem, o maior em quantidade de água do país, atrai milhares de turistas, principalmente pescadores em busca de descanso e de muito peixe. Agora, todos sonham com o apito das locomotivas.

A Norte-Sul, que já dá nome a uma oficina mecânica e a um motel, é apresentada pelos políticos locais como um fator definitivo de prosperidade para toda a região. Eles querem tudo o que for possível com a ferrovia, inclusive um improvável porto seco, a poucos quilômetros do de Anápolis.

Fonte: Correio Braziliense