'Projeto na Bahia é a joia da coroa da ENRC'

22/11/2012 - O Estado de S.Paulo

Depois de quatro anos de indefinições em diversas áreas - da demora no licenciamento ambiental do Porto Sul, nos arredores de Ilhéus, na Bahia, por parte do Ibama, a paralisações constantes nas obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) -, a mineradora Eurasian Natural Resources (ENRC), do Casaquistão, controladora da Bahia Mineração (Bamin), anunciou, no início do mês, o adiamento por tempo indeterminado "do desenvolvimento dos projetos de minério de ferro no Brasil".

O anúncio veio alguns dias antes de o Ibama conceder a licença prévia para a instalação do Porto Sul, um projeto de R$ 3,5 bilhões no qual a Bamin é o maior investidor, com cerca de R$ 1 bilhão. O porto será usado pela empresa para escoar a produção da mina de Caetité, no semiárido baiano, com reservas já aferidas de 450 milhões de toneladas de minério e expectativa de produzir 20 milhões de toneladas por ano.

Apesar de o CEO da ENRC ter dito que os investimentos no Brasil estão suspensos, o presidente da Bamin, José Francisco Viveiros, diz estar certo que os recursos para a obra estão assegurados. "Dentro da ENRC, este projeto é a joia da coroa", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

No que a concessão da licença prévia para a construção do Porto Sul, pelo Ibama, muda os planos da Bamin?

A licença prévia é o passo inicial fundamental para a implantação do empreendimento. E é o mais importante, porque envolve, além dos projetos, discussões com a sociedade, até o Ibama definir se o projeto é viável. Mas é apenas o primeiro passo. Agora, começa uma discussão mais técnica, para a implementação do empreendimento.

No começo do mês, a ENRC anunciou que os investimentos em alguns projetos, incluindo a operação de extração de minério de ferro no Brasil, estão suspensos por tempo indeterminado. Como fica essa questão?

Tenho absoluta convicção de que esse projeto vai caminhar dentro da velocidade possível - e, quando falo possível, me refiro aos fatores externos, não aos relacionados com a ENRC. Dentro da ENRC, este projeto é a joia da coroa. Não há nada melhor dentro da empresa. A qualidade do minério é especial, quase única, e a logística, que é preponderante para o sucesso neste setor, é excelente. Uma ferrovia nova, moderna, em um terreno extremamente favorável, que vai permitir aos trens desenvolverem boa velocidade, chegando a um porto ultramoderno. Sendo a joia da coroa, dificilmente este projeto deixará de ser implementado.

Já há recursos alocados para o início das obras?

Começamos o ano com US$ 500 milhões alocados, isso sem que o conselho de administração da ENRC tivesse aprovado o projeto. Isso demonstra a disposição da empresa. Aí, a cada trimestre, a gente ia devolvendo, já que não havia a menor possibilidade de o dinheiro ser gasto. O projeto não podia avançar nada por causa da falta da licença prévia. Agora, estamos na discussão do orçamento do ano que vem.

Como está a mina, em Caetité?

Ainda não obtivemos a portaria de lavra, mas ela vai ser outorgada em algum momento, porque todos os trâmites já foram concluídos, o processo já percorreu todos os caminhos e agora está no Ministério das Minas e Energia, aguardando a assinatura do ministro (Edison Lobão). Hoje, temos uma pequena operação experimental, realizada sob a cobertura de uma guia de utilização dada pelo Departamento Nacional de Pesquisa Mineral e de uma autorização ambiental do Estado da Bahia. Começamos uma pequena produção, com equipamentos de pequeno porte, que nos permite conhecer um pouco melhor a mina, o minério. Vamos colocar um pouco desse minério no mercado, para ver como o mercado reage. Estamos aquecendo os músculos.

E quais as perspectivas para as obras, a partir de agora?

Nós temos ainda muitas etapas a cumprir, como a licença de implantação, autorização da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) para o porto, contrato com a Valec para o transporte ferroviário... A partir das liberações, em 36 meses deveremos ter tudo pronto, a mina e o porto. Porque não adianta ter um sem o outro.

A ENRC não reclama da demora?

É muito ruim a gente ficar frustrando. Quando a gente fala que algo vai ser daqui a dois anos e acontece em um ano e meio, é ótimo. Quando a gente fala que vai ser daqui a seis meses e acontece em dois anos, é muito ruim. Mas estou nesse setor há 40 anos e nunca me senti tão confortável como me sinto hoje. Na mensagem que nosso presidente mundial nos mandou, internamente, ele nos elogiou pelo trabalho árduo e pela paciência. Quando recebi aquilo, disse: "Paciência minha? Não. Paciência sua!"

A venda do projeto em Caetité é uma possibilidade?

A venda total é uma possibilidade muito remota. Vir a ter um sócio pode ser, mas não há nenhuma iniciativa nesse sentido nesse momento.

Quais foram os investimentos feitos até agora pela Bamin nesse projeto?

Incluindo a compra da mina, o investimento foi da ordem de US$ 1,3 bilhão.

E quanto mais precisa ser investido?

Com a mina, US$ 1,5 bilhão. Com o porto, US$ 1 bilhão.

A cotação internacional do minério de ferro preocupa?

A cotação chegou a quase US$ 200 por tonelada, ficou estabilizada no patamar próximo a US$ 180, depois caiu para US$ 120, depois caiu num buraco, chegou a US$ 86, e voltou a subir. Minério é oferta e demanda. A China continua forte e vai continuar forte porque o modelo que eles adotaram exige uma taxa de crescimento alta. Com a China não tenho a menor preocupação. O problema está na Europa, porque esse mercado praticamente desapareceu.

Há quem diga que apenas as grandes produtoras mundiais de minério estão suficientemente preparadas para um prolongamento na crise europeia - ainda mais se a China tiver uma diminuição no crescimento.

Eu diria que os três principais produtores de minério, a Vale, a Rio Tinto e a BHP, são as últimas opções de compra dos consumidores de minério de ferro no mundo. Está todo mundo batendo na porta dos alternativos, procurando se livrar da dependência desses três


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