Porto de Santos, ainda vital para os grãos de MT

20/11/2012 - Valor Econômico

No ano passado, 28% (9,23 milhões de toneladas) das exportações brasileiras de soja em grão saíram por Santos.




Principal canal de movimentação de cargas semimanufaturadas e manufaturadas no comércio exterior do país, o porto de Santos, no litoral paulista, ainda será vital para o escoamento da produção agrícola dos polos do coração do Brasil por um longo tempo, apesar de o setor buscar constantemente novas rotas de escoamento, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, para baratear custos de transporte.

Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), os planos de investimentos do governo federal para rodovias e ferrovias reforça essa tendência ao invés de enfraquecê-la, apesar de os discursos sobre o tema sugerirem o contrário e das distâncias entre o médio-norte de Mato Grosso e terminais nordestinos ou nortistas serem menores.

A entidade realça que o atual pacote ferroviário do governo, por exemplo, destaca apenas um novo investimento no Centro-Oeste com cronograma para licitação definido que poderia beneficiar o fluxo para portos do Norte. É o tramo entre Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, a Uruaçu, em Goiás, polos de dois dos principais Estados exportadores de soja e milho do país que hoje enviam a maioria de sua produção para Santos.

Há uma ligação na espinha dorsal dessa futura ferrovia com conexão direta até o porto de Vila do Conde, no Pará. Mas Uruaçu fica mais perto de Santos do que do porto paraense. Isso num cenário em que o cais santista já tem terminais especializados na movimentação de granéis sólidos e concentra todas as linhas de navegação que ligam o Brasil ao exterior, enquanto Vila do Conde ainda necessita de investimento no segmento.

Por esse raciocínio, a Anec afirma que, levando-se em conta a atual participação de Santos nas exportações mato-grossenses de milho e soja, quase metade da produção de soja e milho originada no Estado com destino ao exterior nesta safra 2012/13 será embarcada no porto paulista.

"De um ponto de vista lógico, faz muito mais sentido descer do que subir. Embora deva se levar em conta que o aumento de safra é muito grande e todas as saídas serão sobreutilizadas", diz Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec.

No ano passado, 28% (9,23 milhões de toneladas) das exportações brasileiras de soja em grão saíram por Santos. Além da soja, os embarques de milho estão em expansão, em larga medida graças ao aumento das apostas dos produtores de Mato Grosso na segunda safra (safrinha) do cereal, plantada depois de colhida a soja de verão.

"O Brasil vinha exportando entre 9 milhões e 10 milhões de toneladas de milho e neste ano os embarques vão se aproximar de 20 milhões", afirma Mendes. Em 2011, o porto de Santos escoou metade dos volumes de milho embarcados, ou cerca de 4,8 milhões de toneladas.

Assim, pelo menos no médio prazo Santos continuará sendo a principal saída da soja e do milho em grão do Brasil, além do farelo de soja. E o frete entre as fazenda do Centro-Oeste e o porto de Santos tende a se manter elevado.

Para Mendes, o discurso há muito encampado pelo próprio setor de que os caminhos mais lógicos para as exportações de grãos são os portos do Norte e do esbarra no pouco incentivo ao uso de hidrovias – e isso mantém Santos fundamental.

"É claro que defendemos procurar saídas mais baratas, mais apropriadas, mas evidentemente que conservando o que temos, porque já é pouco. O Brasil tem hoje duas safras por ano, nenhum outro país tem isso", diz.

A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que administra o porto de Santos, finalizou seu Programa de Desenvolvimento e Zoneamento, espécie de plano diretor que determina o tipo de carga que cada área do porto deve movimentar.

E, ao contrário do que projetava, pretende renovar os contratos dos terminais de grãos nas mesmas áreas em que estão hoje, desde que haja cláusula de prorrogação, segundo apurou o Valor. No início, a ideia era gravar algumas áreas para a movimentação de outros tipos de cargas, notadamente contêineres.

Por Fernanda Pires



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