VLT Trem

18/10/2012 - Diário de Cuiabá

O trem da Ferronorte e o trem urbano VLT são, de longe, as duas maiores obras da História de Mato Grosso, estratégicas para os próximos 50 anos. O seu megatamanho se deve tanto à sua importância quanto ao volume de recursos públicos necessários, profundamente impactantes na vida de todos nós, mato-grossenses, sobretudo nós, cuiabanos. São cifras que chegam à casa dos bilhões. Muitos bilhões!

VLTrem é um neologismo para mostrar a importância e a inter-relação do TREM com o VLT!!! A paixão que nos move em direção a estes assuntos deve ter em contrapartida uma dose triplicada de responsabilidade.

Gastos bilionários serão necessariamente feitos nesses dois projetos e nas obras da Copa 2014. Décadas de orçamentos federal, estadual e municipal estão comprometidos. De onde sairão os recursos para arcar com investimentos de tal envergadura? E como fazer isso sem comprometer outras áreas fundamentais, como educação, saúde, saneamento, meio ambiente, cultura, energia, estradas, segurança e incentivos econômicos?

Ora!, o VLT, que sem dúvida alguma mudará o perfil de mobilidade na região metropolitana Cuiabá-Várzea Grande, demandará custos bilionários em seu financiamento, manutenção e subsídios das passagens. O sistema deverá ainda ser integrado aos ônibus convencionais, micro-ônibus e talvez a um ou mais BRTs regionais. Também terão de ser inclusas as gratuidades, necessariamente diluídas nas planilhas de custo. Não é razoável acreditar no número colocado por técnicos a serviço do governo, que falam em custos da passagem do VLT em R$ 1,70. Absurdo! O custo será muito maior.

O trem da Ferronorte chegando a Cuiabá, projeto histórico da República Federativa do Brasil, reafirmado por Lula em seu primeiro governo e confirmado por Dilma quando ainda ministra, redimensionará a economia mato-grossense e também a cuiabana, confirmando nossa tendência presente de recordes de crescimento, reforçando-a para o futuro. Serão bilhões poupados em custos de transportes, que em grande parte poderão ser usados também para pagar os investimentos do legado da Copa 2014, entre outros.

Portanto, o trem da Ferronorte é necessário para custear o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Não é preciso ser economista para concluir que todos os custos do VLT e da Copa 2014 terão de ser honrados pelo dinheiro do contribuinte, sendo necessárias ?fontes de recursos? volumosas e duradouras.

Está na imprensa que o trem da Ferronorte não chegará a Cuiabá. O recém lançado Programa de Investimentos em Logística do Governo Dilma, que prevê investimentos em ferrovias no valor de R$ 56 bilhões em cinco anos e de mais R$ 35 bilhões em 25 anos (totalizando R$ 91 bi em 30 anos), simplesmente exclui o trecho Rondonópolis-Cuiabá, e cria uma nova ferrovia, a Fico (Ferrovia do Centro-oeste), partindo de Lucas do Rio Verde rumo a Goiás, chegando aos portos do Sudeste.

Porém, o mais grave, e é só observar no mapa os novos traçados propostos, é que do ponto de vista geopolítico o que se enxerga é uma clara divisão econômica de Mato Grosso, excluindo dos trilhos do desenvolvimento a maior parte das nossas mais antigas cidades e mais da metade da nossa gente. Ora, aqui não cabe ingenuidade: uma divisão ?econômica? do Estado implicará numa fase seguinte à automática divisão territorial, o que somos terminantemente contra. Não esqueçamos que o vírus da divisão do Estado ainda está presente nas conversas de parcela da classe política, sempre ávida por novos cargos e estruturas públicas de poder.

Uma divisão de Mato Grosso, com uma exclusão ferroviária de Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres e muitas outras cidades históricas significa, na prática, que a região mais populosa será excluída do novo ou ?novos modelos? de desenvolvimento do Estado e do Brasil. O Nortão ficará com a ?economia competitiva?, com a maior e melhor parte dos investimentos no transporte. Nós ficaremos com a economia empobrecida, com a logística do século passado, com as bilionárias dívidas da Copa do Pantanal de 2014 e todas as outras contraídas pelo velho Estado. Para refrescar a memória, vale lembrar da divisão do Estado na década de 70 e dos acordos não-cumpridos pela União, como o ?falecido? Programa de Desenvolvimento de Mato Grosso (Promat).

Sou cuiabana de coração... Tenho filhos e netos cuiabanos. Aqui descansam em paz meus queridos pais. Amo Cuiabá e quero o Trem aqui, em Cuiabá. Vamos à Luta!!

*SERYS MARLY SLHESSARENKO foi deputada estadual e senadora da República por Mato Grosso pelo PT


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