Só 25% dos projetos do Nordeste estão em andamento

30/10/2012 - Valor Econômico

Apenas um quarto de 83 projetos considerados prioritários para a ampliação da infraestrutura da região Nordeste está em andamento. O diagnóstico faz parte de um estudo encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que analisou os empreendimentos na região e concluiu que o escoamento da produção dos nove Estados pode travar nos próximos anos.

Os projetos em desenvolvimento considerados prioritários no Nordeste pela CNI somam R$ 25,8 bilhões. Os investimentos são encabeçados, em larga escala, pelo poder público. Apenas 15% das obras que estão em estudo ou em execução contam com a participação da iniciativa privada.

As ferrovias e os portos concentram os investimentos planejados ou já em execução: 90% dos R$ 25,8 bilhões. Outros 9% estão sendo investidos nas rodovias e 1% nas hidrovias. A entidade avalia que a infraestrutura do Nordeste demanda investimentos ainda maiores. Segundo a CNI, outros projetos também relevantes, embora não prioritários para a região somam R$ 71 bilhões no total.

O setor ferroviário é o que mais demanda investimentos nos próximos oito anos, com necessidade de desembolso chegando a R$ 12 bilhões. Um exemplo considerado crítico pela CNI é o trecho da ferrovia Açailândia (MA) a Marabá (PA), da Estrada de Ferro Carajás. Com capacidade para suportar o transporte de 311 mil toneladas por dia, escoa atualmente 279 mil toneladas diariamente. A expectativa é que com o aumento da produção esse volume cresça para 877 mil toneladas por dia em 2020. Se nenhum investimento for feito, a capacidade será ultrapassada, ao fim da década em 1.522%.

Considerada fundamental para a expansão da capacidade de escoamento, a Nova Transnordestina também passa por dificuldades, sobretudo no trecho cearense, que liga a cidade de Salgueiro (PE) ao Porto do Pecém (CE). As seguidas renegociações de preços entre o governo e a concessionária Transnordestina Logística, controlada pela CSN, são as grandes responsáveis pela morosidade das obras, que só devem ser concluídas em 2016.

Outro projeto importante - e ainda mais problemático - é o da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), que ligará a cidade de Ilhéus (BA) a Figueirópolis (TO). O projeto foi concebido para viabilizar a exploração de minério de ferro no oeste baiano, mas está paralisado em vários trechos devido a entraves ambientais. O governo federal avalia como "preocupante" o andamento das obras da ferrovia, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A expectativa é que o minério e a soja do oeste baiano sejam exportados pelo Porto Sul, que será construído em Ilhéus, mas que também enfrenta entraves. Uma guerra entre o governo da Bahia e entidades ambientalistas colocou em xeque o ancoradouro, que nem sequer começou a ser construído.

Os investimentos nos projetos de infraestrutura teriam retorno em pouco mais de quatro anos, diz a CNI, com a economia de gastos logísticos. Atualmente, a região gasta em torno de R$ 30,2 bilhões com transportes, incluindo gastos com frete, pedágios, transbordo, terminais, tarifas portuárias e frete marítimo.

No caso dos portos, atualmente apenas o Complexo Portuário de São Luís e o Porto de Recife utilizam mais do que suas capacidades permitem. Em 2020, seis portos vão operar acima da capacidade e outros dois estarão com potenciais gargalos. Os casos mais críticos devem ser os do Complexo Portuário de São Luís e o Porto de Natal.

Das rodovias que cruzam a região, a BR-101 entre Sergipe e Rio Grande do Norte apresenta os maiores gargalos. A utilização pelos carros e caminhões de carga ultrapassa em até 65% a capacidade de peso que suporta em um determinado período, o que reduz a velocidade dos veículos e provoca congestionamentos. A duplicação da BR-101 está adiantada entre Natal e Recife, porém os prazos originais já foram superados há bastante tempo. Uma simulação do crescimento da produção até 2020 mostra que, se nenhum investimento for feito nos próximos oito anos, nove rodovias estarão sendo utilizadas acima da capacidade.

Para Olivier Girard, um dos sócios da Macrologística, que conduziu o estudo, a matriz do país é concentrada no setor rodoviário e falta investimentos nos modais hidroviário e ferroviário. "Falta competitividade nos diferentes modais. No setor ferroviário, há poucas empresas e concentração de movimentação de carga própria, como ocorre com a Vale e a MRS ", diz. Já as hidrovias, segundo ele, possuem potencial que poderia ajudar na diminuição dos custos logísticos. "O custo do transporte hidroviário é quase metade do rodoviário", compara. No caso do Nordeste, além da cabotagem entre as capitais da região, pelo mar, há a possibilidade do desenvolvimento de transporte pela hidrovia São Francisco.


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