Governo estuda levar trem-bala para PR e MG

14/09/2012 - Valor Econômico

A intenção do governo de levar o trem-bala para Curitiba, Belo Horizonte e Triângulo Mineiro é conhecida desde 2010

Em encontro com engenheiros e executivos brasileiros e estrangeiros de empresas do setor de transportes, o superintendente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Hélio Mauro França, disse ontem que é "uma decisão de governo" ir além do trem-bala que vai ligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro e criar uma malha ferroviária de transporte de passageiros por meio da tecnologia de trens de alta velocidade (TAV). Estudos de demanda para os trechos SP-Curitiba, SP-Belo Horizonte e SP-interior paulista-Triângulo Mineiro são conduzidos pelo Ministério dos Transportes e ficarão prontos em 2014, logo após a assinatura do contrato com o vencedor do leilão do trem-bala SP-RJ, previsto para novembro do ano que vem.

Segundo França, a garantia expressa pelo governo de que a opção pelo trem-bala envolve vários projetos é "um aceno" ao setor privado, que passaria a enxergar maior escala para investimentos no setor. Além disso, a ideia afasta a possibilidade de repetir o fracasso do primeiro leilão do TAV SP-RJ, em julho de 2011, quando nenhum empresa apresentou propostas.

"É um aceno para o leilão. Existe uma visão no país de que é preciso ampliar o modal ferroviário de passageiros, considerando aspectos locais e regionais. O TAV é uma das etapas. É um aceno para o programa de transferência de tecnologia [para a implantação do trem-bala]. É mais atrativo para a indústria se eu ofereço uma perspectiva de escala", disse França, que participou de um painel da 18ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, seminário que ocorre em São Paulo.

Para Nelson Cabral, diretor- comercial da multinacional Bombardier, a maior fabricante mundial de trens de alta velocidade, a notícia é animadora. "A tendência é de melhorar as condições de transferências de tecnologia, um dos critérios para ganhar a concorrência do trem-bala", avalia. "É importante que o governo mostre que tem um plano de investimento para uma malha e não um único projeto, pois facilita o planejamento e as perspectivas de retorno do investimento privado, que é bastante específico", completa.

A intenção do governo de levar o trem-bala para Curitiba, Belo Horizonte e Triângulo Mineiro é conhecida desde 2010, mas desde então não havia notícia sobre o andamento dos estudos. Segundo o dirigente da ANTT, há evidências de viabilidade comercial para se explorar esses trechos. "São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba são cidades com bom fluxo, agora é preciso fazer avaliação de tempo de viagem e necessidade da demanda", ponderou França.

"Estamos avançando nas análises, que contemplam uma linha de alta velocidade de 416 quilômetros de São Paulo a Curitiba", informou. Quanto a Minas, uma linha sairia de São Paulo rumo a Belo Horizonte e outra para o norte paulista, sentido Triângulo Mineiro. França apresentou uma transparência com fotos de satélite destacando os traçados do futuro trem-bala, mas não quis dar mais detalhes do projeto.

Ele concentrou sua palestra no projeto atual do trem-bala, que está em fase de realização de audiências públicas e tem leilão marcado para maio de 2013. O governo exige que as empresas vencedoras do leilão invistam pelo menos R$ 35 bilhões. Em troca, as companhias terão o direito de explorar a operação ferroviária por 40 anos.

A extensão do trem-bala para outras regiões do país foi comemorada por alguns empresários. Um deles, que preferiu não se identificar, questionou a ligação Campinas-São Paulo do atual projeto e cobrou agilidade na conexão com Curitiba. "Campinas e região são muito bem servidas por ótimas rodovias. O trajeto pela Régis Bittencourt para o sul do país é um inferno, a estrada é péssima e sempre tem acidentes que interrompem a viagem. Além disso, o aeroporto Afonso Pena em Curitiba está sempre fechado por causa do mau tempo. O governo poderia deixar de lado o trecho de Campinas e priorizar o trecho sul, cuja viagem é mais dramática."