Atraso na Ferrovia Transnordestina prejudica novo polo

12/07/2012 - Jornal do Commercio - PE

Os preços do transporte rodoviário e do combustível sempre tiveram efeito sobre a competitividade do gesso produzido no Araripe.

O atraso de um ano para a Ferrovia Transnordestina chegar ao Porto de Suape, o que está previsto para ocorrer em 2014, traz impacto no projeto dos empresários do setor gesseiro. Eles planejam construir um polo industrial na cidade de Trindade, no Sertão do Araripe. Este núcleo receberia várias empresas daquela região e teria vantagens logísticas devido à proximidade com os trilhos da ferrovia. “O polo só sairá do papel com a Transnordestina”, destacou o primeiro vice-presidente do Sindicato da Indústria do Gesso de Pernambuco (Sindusgesso), Josias Inojosa Filho.

Os empresários da região acreditam que o serviço ferroviário vai baratear o custo com o transporte dos seus produtos e com a compra de combustível, incluindo o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) e o coque de petróleo que, atualmente, chegam de caminhão ao Araripe.

O sindicato iniciou uma pesquisa para saber o que motivaria as empresas a se mudarem para o novo distrito industrial. De acordo com Josias, quem se instalar no polo terá um diferencial, porque o produto sairá da fábrica direto para a ferrovia. Ela também pode transportar a gipsita (matéria-prima do gesso) vendida para as fábricas de cimento.

Os preços do transporte rodoviário e do combustível sempre tiveram efeito sobre a competitividade do gesso produzido no Araripe. Para o leitor ter uma ideia, Araripina está a 673 quilômetros do Recife. “A nossa estimativa é que haja uma redução de pelo menos 40% com os custos de transporte, quando a ferrovia entrar em operação”, comentou Inojosa. Os executivos do setor gesseiro reivindicam a implantação de uma ferrovia, pelo menos, desde a década de 90.

A linha férrea, segundo Inojosa, permitiria que as empresas do setor implantassem centrais de distribuição para que uma parte dos estoques fique próximo aos grandes centros consumidores.

A Ferrovia Transnordestina vai ligar a cidade de Eliseu Martins, no Piauí, aos portos de Pecém, no Ceará, e de Suape, no Cabo de Santo Agostinho. Até fevereiro último, a expectativa era que o ramal Eliseu Martins-Suape fosse concluído até o final de 2013, enquanto a ligação que segue para o Ceará ficaria pronta no final de 2014. Agora, toda a obra será finalizada até dezembro de 2014 por causa de imprevistos que ocorreram no ramal Eliseu Martins-Suape como a construção de dois desvios. Um deles será feito na Mata Sul (devido à construção da Barragem Serro Azul) e outro será construído em Custódia (Sertão Central) para evitar a demolição da Igreja São Luiz do Gonzaga, na área rural daquela cidade.

As obras da ferrovia começaram no dia 5 de julho de 2006 num evento que contou com a presença do então presidente Lula em Missão Velha, no Ceará. Na época, foi divulgado que a ferrovia seria concluída até o final de 2010. O empreendimento custará R$ 5,4 bilhões.

Clube de Engenharia quer Valec no controle - Os Clubes de Engenharia dos Estados do Nordeste encaminharam uma carta a presidente Dilma Rousseff (PT) pedindo que a construção da Ferrovia Transnordestina passe a ser feita pela estatal Valec, como adiantou o blog do Jamildo. A Valec atua na área ferroviária e pertence ao Ministério dos Transportes. Atualmente, há suspeitas de superfaturamento nas obras da Valec, segundo informações do Tribunal de Contas da União (TCU). “
Defendemos o conceito de que a Transnordestina deveria ser construída pela Valec e acreditamos que os problemas da estatal serão sanados”, defendeu o presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, Alexandre Santos. A carta encaminhada ao Ministério dos Transportes saiu de um encontro regional dos clubes de engenharia, que ocorreu no Recife.

Santos argumentou que a empresa que está à frente das obras, a Transnordestina Logística S.A. (TLSA) tem muitas irregularidades, como o não cumprimento de algumas metas estabelecidas na concessão. A TLSA é uma subsidiária da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), que venceu o leilão para explorar o serviço ferroviário da Região em 1997.

O presidente do Clube de Engenharia afirmou que a operação da carga da futura Ferrovia Transnordestina deveria ser realizada por uma empresa mais empenhada.

A assessoria de imprensa do Ministério dos Transportes informou que está analisando o pleito do Clube de Engenharia de Pernambuco, o qual será “respondido oportunamente”.

Ainda no mesmo texto, a assessoria do Ministério argumentou que o contrato de concessão firmado com a CFN é válido por um período de 30 anos e os contratos devem ser respeitados. O Ministério contabiliza que a ferrovia tem um índice de realização de 35%. A TLSA foi questionada sobre o assunto, mas não deu retorno.