A primeira ferrovia do Oeste do Paraná

Postado por Amantes da Ferrovia em 13 maio 2011 às 11:31



ESTRADA DE FERRO MATE LARANJEIRAS

Resta apenas uma locomotiva a vapor da ferrovia da Companhia Mate Laranjeira — incorporada em 1944 ao Serviço de Navegação da Bacia do Prata (SNBP) e erradicada em 1959. Todo material foi a leilão em 1963 e arrematado pela Fundição Guaíra, de Curitiba.

A locomotiva sobrevivente, "fabricada há quase um século na Alemanha", foi salva pelo austríaco Ernst Mann, que em 1963 era diretor não-remunerado do Departamento de Turismo de Guaíra.

Encontra-se exposta na Praça Pres. Dutra, em Guaíra, ao sol e à chuva, sujeita à ação dos vândalos e da ferrugem.

Porto Murtinho

A Cia. Mate Laranjeira surgiu de uma concessão imperial a Tomás Laranjeira, por serviços prestados na guerra do Paraguai. A primeira sede foi em Concepción. Posteriormente, Laranjeira associou-se à família Murtinho e à família Mendes Gonçalves.

A Mate Laranjeira foi responsável pela fundação de Porto Murtinho (MS), no rio Paraguai, de onde passou a embarcar chá para a Argentina. O transporte do mate — colhido num vasto império extrativo no atual Estado de Mato Grosso do Sul — exigia 800 carretas e 20 mil bois. Ao aproximar-se do rio Paraguai, o terreno torna-se pantanoso, e a Mate Laranjeira viu-se obrigada a construir um "aterro ferroviário" de 22 km, para chegar ao porto.

No início de 1990, Luiz Octávio (ABPF-RJ) informava a descoberta dessa extinta ferrovia, com bitola de 60 cm e 8 locomotivas a vapor. A loco n° 2 ainda estava exposta na praça principal de Porto Murtinho; e vagões gôndola e guindaste no Hotel Saladero.

Até a edição de 1980, o Atlas Geográfico Escolar do MEC ainda indica o trajeto dessa ferrovia.

Guaíra

Em 1909, a Mate Laranjeira estabeleceu-se em Guaíra, para facilitar o escoamento. Pelo novo esquema, a erva mate passou a ser levada em chatas rebocadas por pequenos vapores, descendo os afluentes sul-matogrossenses do rio Paraná até Guaíra. Daí, seguia por carroças de boi até Porto São João, 45 km ao sul. Logo, construiu uma via férrea tipodecauville, para vagões puxados por muares, para melhorar o trajeto.

Em 1913, adquiriu de Isnardi, Alves & Cia. uma concessão estadual para construir uma ferrovia ligando o alto ao baixo Paraná. Com isso, estendeu a linha até Porto Mendes e substituiu os muares por locomotivas a vapor inglesas e alemãs, recondicionadas.

A ferrovia foi inaugurada em 1917/Jun/1° e, até a Revolução de 30, resistiu às pressões do governo para abrir seu uso ao público — o que ocorreu com a posse de Getúlio Vargas. Durante a II Guerra Mundial, aliás, Vargas criou o território federal de Iguaçu, por motivos de segurança. Nessa época, a Argentina criou restrições ao mate brasileiro e a empresa entrou em dificuldades, sendo encampada pelo Serviço de Navegação da Bacia do Prata (SNBP).

A estrada da Mate Laranjeira esteve em foco nos anos 20, quando os rebeldes paulistas de 1924 refugiaram-se no oeste do Paraná, até receber o reforço gaúcho e formar a Coluna Prestes. Siqueira Campos, um dos líderes revoltosos, é hoje homenageado com o nome de uma cidade paranaense. Rondon, que os combateu, é homenageado com o nome de outra.

Por: Flávio R. Cavalcanti — Centro-Oeste nº 87 (1º-Fev-1994)