Concorrência do trem-bala é adiada outra vez, para julho

31/03/2011 - Valor, por André Borges

O adiamento, segundo fonte do ministério, deverá ser de três meses, embora os empresários estejam pressionando por mais tempo. A abertura da proposta, que seria em 29 de abril, passa agora para julho.

O governo vai adiar o leilão do trem-bala pela segunda vez. A decisão foi tomada pelo Ministério dos Transportes e encaminhada à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável pela concorrência. O adiamento, segundo fonte do ministério, deverá ser de três meses, embora os empresários estejam pressionando por mais tempo. A abertura da proposta, que seria em 29 de abril, passa agora para julho.

Mais uma vez, a decisão do governo foi motivada por críticas e dúvidas sobre a viabilidade financeira do projeto e as exigências do edital. Pesou mais, no entanto, as negociações em aberto que envolvem os consórcios interessados no trem-bala, que ligará Campinas, São Paulo e Rio. Nos últimos dias, o governo recebeu pedidos de adiamento vindos de fabricantes de trens e equipamentos, que querem mais tempo para fechar acordos com empreiteiras. “Três meses é um prazo curto demais para negociar”, disse ao Valor o coordenador comercial da fabricante espanhola CAF, Ricardo Sanches.

Curto ou não, o prazo será usado por algumas companhias para mudar a forma de atuar nos consórcios. Alguns fabricantes de trens não querem mais ser sócios da operação e sim fornecedores de equipamentos e tecnologia. Esse é o caso da canadense Bombardier, segundo o diretor de negócios globais da empresa, Flavio Canetti. A posição dos espanhóis da Talgo é a mesma.

Procurada, a ANTT informou que encaminhará o pleito dos empresários ao Ministério dos Transportes. “O que nós percebemos desta vez é que os argumentos que motivam o pedido de adiamento estão ligados a negociações empresariais e não a questionamentos sobre o edital”, disse Bernardo Figueiredo, diretor-geral da ANTT. Ele não quis confirmar a mudança na data, mas disse que três meses seriam de fato um tempo razoável para as negociações.

“A realidade é que nós, fabricantes de equipamentos, somos coadjuvantes nesse projeto. Ele é, essencialmente, uma obra de infraestrutura e construção civil”, disse Ricardo Sanches, da CAF.
Apesar de a ANTT restringir as motivações dos consórcios a questões de entendimento comercial, também estão na mesa da agência pedidos que, se acatados, significariam a reformulação completa do edital, como a liberação de preço para a tarifa-teto. Hoje, o valor máximo que poderia ser cobrado nas passagens do trem-bala é de R$ 0,49 por km rodado, mas os empresários querem que esse preço fique em aberto. Com esse valor, dizem, o projeto fica inviável. O custo do trem-bala estimado pelo governo é de R$ 34 bilhões, mas no mercado já se fala em mais de R$ 50 bilhões.