Valec licita 1,7 mil km de trilhos, tudo importado

17/01/2011 - Valor Econômico


A licitação da Valec se destina às malhas da Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia, e do trecho sul da Ferrovia Norte-Sul.

A estatal Valec vai comprar 1.711 km de trilhos para novas ferrovias no país, o equivalente a uma viagem de São Paulo a Palmas. O edital divulgado prevê compras de 244 mil toneladas de trilhos no valor de R$ 807,2 milhões. Como não há produção de trilhos no Brasil, tudo será importado da Ásia ou do Leste Europeu.

O valor dessa operação explica por que a presidente Dilma manifestou há dias seu desconforto em ter de importar trilhos. Segundo fontes setoriais, dificilmente o país terá uma fábrica de trilhos a curto prazo, embora o setor viva um momento de grande expansão. A Gerdau Açominas informou ao Valor, por meio de nota, que avalia a possibilidade de produzir trilhos, "considerando a nova realidade do setor". O projeto, segundo estimativas, exigiria investimentos da ordem de US$ 1,5 bilhão.

A licitação da Valec se destina às malhas da Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia, e do trecho sul da Ferrovia Norte-Sul. A compra de mais 1.040 km de trilhos está prevista para este ano, para a Ferrovia de Integração Centro-Oeste. O governo retirou todos os impostos sobre os trilhos: Imposto de Importação, ICMS, PIS e Cofins. Mesmo assim, uma tonelada de trilhos custa US$ 860, enquanto a tonelada de minério de ferro exportada pelo país sai por US$ 130.

Valec prevê mais compras neste ano

Uma segunda ordem de compra de malha ferroviária já está em gestação na Valec e, ainda neste ano, a empresa vai adquirir mais 1.040 km de trilhos. São cerca de 140 toneladas de aço, com preço estimado em mais R$ 400 milhões. A estrada de ferro, segundo o presidente da estatal, José Francisco das Neves, será usada para iniciar as obras da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), também conhecida como a "ferrovia da soja".

A Fico começa em Campinorte (GO), onde se integra à Ferrovia Norte-Sul e parte rumo a Mato Grosso, até chegar a Lucas do Rio Verde. A preparação do traçado, segundo Neves, deve começar até abril. Para este trecho, o investimento previsto é de R$ 4,1 bilhões, recurso incluído nas contas do PAC. Uma segunda fase da obra seguirá de Lucas do Rio Verde até Vilhena (RO). São mais 598 km de estrada, que exigirão R$ 2,3 bilhões de investimento. No pico das obras, estima-se que a obra deverá envolver 20 mil trabalhadores.

A Fico aguarda a emissão de licença prévia, documento que será emitido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). A empresa de desenvolvimento de projetos Enefer já está instalada na cidade de Água Boa (MT). A ferrovia é parte de um projeto mais ambicioso do governo, batizado de Ferrovia Transcontinental (EF-354). A ideia é montar uma estrutura de 4,4 mil km de extensão, cortando o país de leste a oeste, numa trilha que seguirá pelo Distrito Federal e Minas, até chegar ao litoral fluminense. Na outra ponta, a Transcontinental chegará até o Acre, atingindo a fronteira com o Peru.

Enquanto importa trilhos para alimentar a expansão da malha ferroviária, o país bate recordes de exportação de minério de ferro - US$ 28,9 bilhões em 2010, 117,4% a mais que em 2009. A Vale elevou o preço do minério em mais de 100% no ano passado. Mantida a tendência do mercado, projeta-se que as exportações cheguem a R$ 38 bilhões neste ano. (AB)

Fonte: Valor Econômico