Trem-bala é questionado em estudo do Senado

07/10/2010 - Portal 2014

Conclusão é que o TAV brasileiro teria custo subestimado, baixa demanda e tarifa alta demais


TAV brasileiro, mais caro que os de outros países (crédito: Arquivo)
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Ao comparar os planos para o trem de alta velocidade brasileiro (TAV) com os de outros países, um estudo de consultores do Senado apontou riscos que poderiam levar ao fracasso de sua construção no país.

A informação, divulgada nesta quinta-feira (7) pelo jornal "Valor Econômico", dá conta de vários problemas: custo subestimado, demanda insuficiente, tarifa cara, falta de interconexão com outros meios de transporte e ausência de análise de projetos alternativos. "É a crônica de um prejuízo anunciado", declarou ao jornal Marcos Mendes, consultor do Senado responsável pelo estudo.

Avaliado em R$ 34,6 bilhões, o trem-bala é de longe o projeto mais caro entre todas as obras em execução ou planejadas pelo governo, como, por exemplo, as relacionadas à construção e reforma dos doze estádios da Copa de 2014, calculadas em R$ 6,3 bilhões.

Baixa demanda
O estudo dos consultores do Senado começa por questionar o número de viagens que seriam realizadas por ano entre São Paulo e Rio de Janeiro, estimado em 6,4 milhões pelo projeto. "Para engordar o número brasileiro, o projeto passou a considerar trechos intermediários. Mas, então, por que o TAV não se limita, inicialmente, a alguns trechos, para depois avaliar seus resultados? Por que não considerar trens intermediários, de 160 km por hora, que custam entre 25% e 65% do TAV?", questiona Mendes.

Os pontos mal esclarecidos no projeto já estariam levando os consórcios a pesarem melhor sua participação na concorrência do governo, afirma a reportagem. É o caso da Siemens, companhia à frente do consórcio alemão, cujo diretor da divisão de mobilidade da companhia, Paulo Alvarenga, teria manifestado "dúvidas profundas" sobre a viabilidade do projeto e afirmado que o edital "é otimista demais".

Outro consórcio que busca respostas do governo brasileiro é o coreano. "Estudamos o projeto e chegamos a conclusões diferentes das do governo", diz Paulo Benites, presidente da Trends, empresa brasileira de engenharia que representa o grupo coreano no Brasil. Apesar das críticas do setor privado, o representante de um consórcio que preferiu não se identificar afirma que as empresas continuam trabalhando em seus projetos. "Essas queixas fazem parte do jogo", declarou o executivo.

Passagem cara demais
Outro ponto de conflito é o preço previsto para a passagem do trem-bala. A tarifa-teto fixada pelo edital, de R$ 0,49 (US$ 0,27) por quilômetro rodado, faria com que o percurso entre São Paulo e Rio custasse, no máximo, R$ 199,00 (passagem econômica). Mas no Japão, país que tem a passagem mais cara do mundo, a tarifa está fixada em US$ 0,25/quilômetro. "Agora compare o nível de renda da população do Japão e do Brasil", diz Mendes. "A verdade é que esse projeto só está olhando para o público que hoje viaja de avião, o que é insuficiente", acrescenta o consultor do Senado Federal.

As experiências internacionais apontam que o peso do investimento estatal costuma ser considerável. Dois anos atrás, quando se começou a falar no projeto, aponta o relatório do Senado, estimava-se custo total de R$ 16 bilhões para o TAV, aporte que seria 100% privado. "Já estamos em R$ 34 bilhões, sendo que R$ 20 bilhões sairão dos cofres do Tesouro para alimentar um financiamento subsidiado por meio do BNDES", diz Mendes. "Além disso, a estatal Etav, que será criada, entrará com com R$ 3,4 bilhões."

Cronograma do trem-bala
Com velocidade de mais de 300 km por hora, o trem-bala vai percorrer um trecho de 518 km entre Campinas (SP) e Rio de Janeiro, com seis paradas intermediárias. A previsão é que comece a funcionar em 2016, quando serão realizados os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Dentro de menos de dois meses, no dia 29 de novembro está marcada a entrega dos envelopes com as propostas para a sua construção.

O leilão que definirá o consórcio vencedor será realizado no dia 16 de dezembro, na sede da Bovespa. Empresas canadenses, sul-coreanas, japonesas, chinesas e francesas estariam na disputa.